(Publicado na seção LOGO/A Página móvel, que saiu hoja na editoria Rio do Globo)
Arnaldo Bloch
'Que merda é essa?”, dirão muitos, ao lerem os
trechos abaixo, pinçados de cartas de Mon-
teiro Lobato a amigos. Involuntariamente,
estarão citando o nome do bloco que, neste
carnaval, com toda a legitimidade, satiriza o
politicamente correto, vestindo a camiseta de Ziral-
do mostrando o escritor abraçado a uma mulata (em
referência a questionamentos do Conselho Nacional
de Educação e da sociedade civil a passagens de sua
obra). Desautorizar os foliões, como muitos querem,
é uma estupidez. Mas tampouco seria inteligente ig-
norar o pensamento eugenista que Lobato, por cuja
obra temos tanto carinho, disseminou paralelamen-
te à sua ficção (e, para alguns, em caráter subliminar,
em seus livros, como era, confessadamente, sua pró-
pria intenção). Uma horda de pesquisadores hones-
tíssimos diria que, mesmo assim, é uma simplifica-
ção afirmar que Lobato era racista. Afinal, na época,
tais ideias — que contribuíram para a ignomínia na-
zista — eram comuns. “Até Sérgio Buarque de Ho-
landa, num artigo nos idos de 1920, dizia que a mes-
tiçagem só poderia resultar em monstruosidades”,
lembra Nísia Trindade Lima, pesquisadora da Fun-
dação Oswaldo Cruz. Mas não se deve esquecer que,
mesmo comum, esta doutrina não era hegemônica,
nem obrigatória. E que outros homens e mulheres se
insurgiram contra a mesma, na época. Ou seja, a con-
textualização é sempre necessária, mas esta não ex-
tingue o espírito crítico. Na última segunda-feira, por
sinal, Ruy Castro, em entrevista a este jornal, quei-
xou-se da “superficialidade” e da “ignorância” dos
que ora afirmam que Monteiro Lobato era racista.
“Não leram uma linha do que ele escreveu”, senten-
ciou o escritor e jornalista. As linhas abaixo, contu-
do, não podem ser ignoradas, se quisermos aprofun-
dar o debate, que jamais se esgotará nestes arroubos de verdade absoluta, de um lado ou de outro.
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“Mulatada, em suma. (...) País de mestiços onde o branco não tem força para organizar uma Klux-Klan é país perdido para altos destinos. (...) Um dia se fará justiça ao Klux-Klan; (...) Tivéssemos aí uma defesa dessa ordem, que mantém o negro no seu lugar, e estaríamos hoje livres da peste da imprensa carioca — mulatinho fazendo o jogo do galego, e sempre demolidor porque a mestiçagem do negro destroem (sic) a capacidade construtiva.” Em carta a Arthur Neiva, Nova York, 1928
“Os negros da África (...) vingaram-se do português de maneira mais
terrível, amulatando-o e liquefazendo-o,
dando aquela coisa
residual
que vem dos
subúrbios
pela manhã .
(...) Como
consertar essa
gente? Como
sermos gente,
no concerto
dos povos? ” A Godofredo Rangel, 1908.
“A escrita é um
processo
indireto de fazer
eugenia, e os
processos
indiretos, no
Brasil, ‘work’
muito mais
eficientemente.” A Renato Kehl, 1930
processo
indireto de fazer
eugenia, e os
processos
indiretos, no
Brasil, ‘work’
muito mais
eficientemente.” A Renato Kehl, 1930
“ (...) Precisamos
lançar,
vulgarizar
estas ideias. A
humanidade
precisa de
uma coisa só:
póda. É como
a vinha.” A Renato Kehl, 1930
“Meu romance não encontra editor. (...). Acham-no ofensivo à dignidade americana. (...) Errei vindo cá tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros.” A Godofredo Rangel, sobre o romance “O presidente negro”
lançar,
vulgarizar
estas ideias. A
humanidade
precisa de
uma coisa só:
póda. É como
a vinha.” A Renato Kehl, 1930
“Meu romance não encontra editor. (...). Acham-no ofensivo à dignidade americana. (...) Errei vindo cá tão verde. Devia ter vindo no tempo em que eles linchavam os negros.” A Godofredo Rangel, sobre o romance “O presidente negro”
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